O que não dizer do preconceito racial na Igreja evangélica brasileira? Quantas histórias verídicas ouvimos de pessoas que foram tratadas com desprezo só por serem negras. O interessante é que muitas comunidades, em suas origens, tiveram um grande apoio dos negros.
Um dia, conversando com uma irmã, pude ver quanto o preconceito está introjetado nas mentes dos crentes. Ela me fez a "sábia" pergunta: "Depois de nós, os brancos, de onde surgiram os negros?" Então, eu lhe respondi de forma socrática, ou seja, perguntando: "Mas quem lhe disse que foram vocês, os brancos, que surgiram primeiro?" Ao passo que ela tomou um grande susto e perguntou: "Mas, não foi? Quem lhe garante? É bem possível que tenha sido diferente. Ou talvez, não." Percebi que aquela irmã nunca tinha, como muitos que estão lendo esse artigo, refletido com estas categorias. Isto porque seu preconceito já estava tão interiorizado que ela achava que, por ser branca, já era superior. Para ela, os negros só podiam ter vindo depois.
Mas isto não é tão grave quanto um texto que li certa vez de um escritor de uma denominação histórica. Ele dizia que a maldição de Caím era a cor negra. Quando li o artigo, na companhia de um amigo que não era negro, fizemos logo a pergunta: "Mas a maldição de Caím, dentro desse pensamento absurdo, não poderia ser a cor branca?" A conclusão que chegamos foi que aquele escritor e pastor – que, aliás, era nosso professor no seminário – estava cheio de racismo e não merecia nossa atenção.
Anos se passaram e as coisas parecem não ter mudado. Quantos líderes de nossas denominações são negros? Quantos missionários norte-americanos que trabalham no Brasil são negros? Quantos? Dá para contar nos dedos.
Existe um ensino que vem da "Teologia da Prosperidade" que reforça a posição racista nas igrejas evangélicas. Os pastores que abraçaram essa teologia apregoam que uma pessoa branca deve casar com outra da mesma etnia, da mesma cor, bem como uma pessoa negra deve casar com outra negra. Será que não dá pra dizer que isso é uma opção pessoal? Porque se não é possível afirmar isso, só podemos chegar à conclusão que há racismo nessas proposições. E é uma racismo da pior espécie – se é que existe racismo pior ou melhor –, pois usa a Palavra de Deus para difundir conceitos incoerentes de segregação.
A Igreja brasileira precisa rever essa postura já! Não se pode admitir um comportamento como este. Será que esse posicionamento não é pecado? Posso dizer que sim. Afinal, Cristo nos fez um. Negros, brancos, índios – somos um só corpo e ponto.
É triste ver que no Sul do País há igrejas que não aceitam a liderança de pessoas negras. Ver comunidades cristãs, formadas por descendentes de russos, alemães, italianos etc., com dificuldades causadas por racismo, desmontando todo o arcabouço e o argumento evangélicos.
Que Igreja que estamos mostrando? Uma comunidade terapêutica? Ou um lugar de opressão? Que tipo de Igreja queremos ser?
Na carta de Tiago, há uma exortação angustiante para aqueles que não se libertaram do racismo: "Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. (...) Porque o juízo é sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo" (Tiago 2. 1 e 13). Que esse pecado velado e "oculto" não faça parte de nossas vidas nem se nomeie entre nós.
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