sábado, 2 de fevereiro de 2008

Jesus Negro. O que acham ?


Escrevo sobre o que vi, ouvi e senti.....


Falar sobre a mulher negra é sempre momento de reflexão e sobre a mulher negra evangélica não é diferente por esta sofrer tripla discriminação: ser mulher, negra e evangélica, enfim uma mulher negra que sofre, não menos que as demais. Bela, formosa, inteligente, “benção de Deus”, porém, rejeitada. Essa é a frase de milhares de mulheres negras que vivem dentro das igrejas evangélicas. São belas e formosas, inteligentes, uma benção para vida dos irmãos – mas não servem para casar.
Não é novidade que a mulher negra é, em sua maioria, rejeitada pelo homem negro e explorada em diversos aspectos pelo homem branco. Dentro da igreja evangélica isso não é diferente. Historicamente, a figura da mulher negra foi criada por trás do estereótipo de beleza e sensualidade: uma imagem totalmente sexualizada. Essa dualidade marcou sociedades inteiras por causa da escravidão, marcando também, o homem negro que tornou-se machista, aprendendo com o mundo ocidental tal prática.
É bastante comum encontrar irmãs, em média, com 30/40 anos solteiras dentro das igrejas, simplesmente porque nenhum irmão a desejou para casar-se com ela. As mulheres negras na igreja, muitas vezes, são consideradas feias. Em contra partida é bastante comum, também, encontrar irmãs brancas casadas com negros e brancos da igreja (essas brancas casadas com negros são, em maioria, pobres e, ou com pouca instrução), enquanto as negras servem para profetizar, para limpar, para orar e não para ter uma família como as demais mulheres: a dita vida “abençoada por Deus”.
Muitas das mulheres negras casadas foram ou são violentadas, física ou moralmente por seus maridos machistas. Outras solteiras foram exploradas sexualmente, enganadas com falsa promessa de casamento.
Os jovens negros das igrejas “ficam”, às vezes, com uma irmã negra – e isso, geralmente às escondidas – mas dificilmente deseja casar ou assumir um relacionamento que gere futuro casamento. Namorar e casar, preferencialmente, com as brancas, pois ser negra na igreja é sinônimo de feiúra e casar com uma negra não “dá bons cargos” nem “status”. Muitos negros evangélicos não são diferentes de alguns negros que estão fora das igrejas ambos gostam de exibir uma branca como se fosse um troféu e isso, acontece não porque de fato estão apaixonados por elas, mas é como se isso lhes desse o título superior de posse por estar com uma branca. Eles tem relações sexuais com as negras, mas dificilmente casar-se-ão com uma delas. O machismo ocidental, com certeza, se repete dentro das igrejas.
Não se dá ênfase para os relacionamentos entre os negros, não há questionamento dentro das igrejas do porque de a maioria das famílias negras dentro das igrejas serem desestruturadas.
Mães separadas que geraram futuras mães ou mulheres solteiras e separadas, não se questiona o porquê de o homem negro rejeitar, usar e abusar da irmã de sua cor, muito menos o porquê de muitos irmãos negros terem muitos filhos com famílias diferentes. Desestruturar as famílias é uma das piores violências que se pode cometer contra um povo, é mais uma forma de genocídio do nosso povo.
As igrejas ao tentarem comentar o racismo – da para contar as que fazem isso – elas o abordam de forma que, aparentemente, o racismo e o racista estão somente lá fora, no “mundo”, ou melhor, na sociedade e não algo que realmente envolva a igreja e que esteja, também, dentro da igreja. Existe a hipocrisia da falsa igualdade. É necessário recontar e reescrever aspectos de nossa história africana é preciso desconstruir os dramas que sucedem às famílias negras evangélicas. A mulher negra foi, profunda e intimamente, marcada negativamente e a igreja ainda hoje fere o ser mulher negra evangélica. É preciso construir na igreja a cultura negra e estimular o amor entre nosso povo, é preciso desconstruir o machismo ocidental que desestrutura e destrói as nossas famílias.
Para finalizar a nossa reflexão quero deixar alguns versículos do livro de Cantares 1 de Salomão o qual ele escreveu junto com a sua negra Makeda (a Rainha de Sabá 1Reis10). Que os homens negros possam amar as suas mulheres negras assim como Yeshua planejou. Que os homens negros sejam libertos do machismo ocidental que marginaliza o amor e as nossas famílias.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Escravos sim....

Em 1888 a princesa Isabel declarou que os negros não eram obrigados a trabalhar de graça e serem humilhados de todas as formas pelos brancos.Porém, hoje a realidade é que a escravidão está aí, não só para negros, mas para brancos, amarelos, vermelhos…e não há lei que a impeça. Ao contrário da escravidão dos negros, que era escancarada, esta é uma escravidão silenciosa, que quase não se percebe.Somos todos escravos. Queremos tomar um suco de laranja, mas a Coca Cola não deixa. Queremos sair e praticar um esporte, mas o Domingo Legal nos impede. Não adianta querer comprar um tênis simples: a sociedade, nossa terrível senhora, nos chicoteia com artistas famosos usando Nike.Você vai dizer que não é escravo? Pense bem. Será que nunca deixou de comer um pão com queijo para ir ao Mc´Donalds? E aquela caminhada que vocêÊ queria fazer no outro dia? Ah, é, mas tava passando novela.AH, vocêÊ é daqueles que pensam o contrário. Você que é o suserano, que chega numa festa com as roupas da última moda, das melhores grifes, e os vassalos são aqueles que se vestem como querem. Será que é você que tem que olhar com ar superior para eles?Existem pouquíssimas pessoas que não se deixam levar pelos valores que a sociedade atual prega. Se você é uma delas, parabéns. Agora, se vocêÊ já foi um escravo e conseguiu se libertar, mais parabéns ainda, porque isso é muito difícil. Pena que – aposto – as pessoas ao seu redor não são como você.E é uma pena que este toque que estamos dando não vai chegar a todos os que precisam. A grande maioria não lê....

O negro na Igreja Evangélica



O que não dizer do preconceito racial na Igreja evangélica brasileira? Quantas histórias verídicas ouvimos de pessoas que foram tratadas com desprezo só por serem negras. O interessante é que muitas comunidades, em suas origens, tiveram um grande apoio dos negros.
Um dia, conversando com uma irmã, pude ver quanto o preconceito está introjetado nas mentes dos crentes. Ela me fez a "sábia" pergunta: "Depois de nós, os brancos, de onde surgiram os negros?" Então, eu lhe respondi de forma socrática, ou seja, perguntando: "Mas quem lhe disse que foram vocês, os brancos, que surgiram primeiro?" Ao passo que ela tomou um grande susto e perguntou: "Mas, não foi? Quem lhe garante? É bem possível que tenha sido diferente. Ou talvez, não." Percebi que aquela irmã nunca tinha, como muitos que estão lendo esse artigo, refletido com estas categorias. Isto porque seu preconceito já estava tão interiorizado que ela achava que, por ser branca, já era superior. Para ela, os negros só podiam ter vindo depois.
Mas isto não é tão grave quanto um texto que li certa vez de um escritor de uma denominação histórica. Ele dizia que a maldição de Caím era a cor negra. Quando li o artigo, na companhia de um amigo que não era negro, fizemos logo a pergunta: "Mas a maldição de Caím, dentro desse pensamento absurdo, não poderia ser a cor branca?" A conclusão que chegamos foi que aquele escritor e pastor – que, aliás, era nosso professor no seminário – estava cheio de racismo e não merecia nossa atenção.
Anos se passaram e as coisas parecem não ter mudado. Quantos líderes de nossas denominações são negros? Quantos missionários norte-americanos que trabalham no Brasil são negros? Quantos? Dá para contar nos dedos.
Existe um ensino que vem da "Teologia da Prosperidade" que reforça a posição racista nas igrejas evangélicas. Os pastores que abraçaram essa teologia apregoam que uma pessoa branca deve casar com outra da mesma etnia, da mesma cor, bem como uma pessoa negra deve casar com outra negra. Será que não dá pra dizer que isso é uma opção pessoal? Porque se não é possível afirmar isso, só podemos chegar à conclusão que há racismo nessas proposições. E é uma racismo da pior espécie – se é que existe racismo pior ou melhor –, pois usa a Palavra de Deus para difundir conceitos incoerentes de segregação.
A Igreja brasileira precisa rever essa postura já! Não se pode admitir um comportamento como este. Será que esse posicionamento não é pecado? Posso dizer que sim. Afinal, Cristo nos fez um. Negros, brancos, índios – somos um só corpo e ponto.
É triste ver que no Sul do País há igrejas que não aceitam a liderança de pessoas negras. Ver comunidades cristãs, formadas por descendentes de russos, alemães, italianos etc., com dificuldades causadas por racismo, desmontando todo o arcabouço e o argumento evangélicos.
Que Igreja que estamos mostrando? Uma comunidade terapêutica? Ou um lugar de opressão? Que tipo de Igreja queremos ser?
Na carta de Tiago, há uma exortação angustiante para aqueles que não se libertaram do racismo: "Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. (...) Porque o juízo é sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo" (Tiago 2. 1 e 13). Que esse pecado velado e "oculto" não faça parte de nossas vidas nem se nomeie entre nós.